A NATUREZA EXUBERANTE DE SUA FAZENDA CONTINUA SUA OBRA...
EXPERIMENTANDO O CAFÉ PRODUZIDO NA FAZENDA
AGUARDANDO PARA PROVAR A CACHAÇA?
EXPERIMENTANDO O CAFÉ PRODUZIDO NA FAZENDA
AGUARDANDO PARA PROVAR A CACHAÇA?
NO ALAMBIQUE
A PRIMEIRA À ESQUERDA: MILA, A MULHER DE EDSON PERES COM ARTESÃOS
MILA, MULHER DE EDSON RECEBE DA ASSOCIARTE MATÉRIA DE JORNAL EMOLDURADA
MARIA ELISA ROBBI, VICE PRESIDENTE DA ASSOCIARTE ENTREGA HOMENAGEM PARA MILA, MULHER DE EDSON.
NA FOTOS QUE SEGUEM: O BEIJA-FLOR E SEU NINHO
Cidinha Souza Pinto
Cidinha Souza Pinto
Nov. 2008
NAS MADEIRAS, SUAS MARCAS
CRAVADAS SOBRE AQUELAS
ENCONTRADAS AO RELENTO,
ARRASTADAS POR ESTRADAS,
ATÉ SEM PERTENCIMENTO,
POR VEZES ABANDONADAS.
NUM ESPAÇO TÃO CONFUSO
MUITA COISA EM DESUSO
COM TANTA QUINQUILHARIA.
OBJETOS SEM VALOR
PRA QUEM DE FORA OS OLHASSE
PODENDO ATÉ ESTRANHAR
UM ARTISTA DE RENOME
TER ESCOLHIDO PRA SER
POR MUITOS ANOS A FIO
-SERIA UM DESAFIO?-
SEU LUGAR DE TRABALHAR.
PRA ELE ERA SEU MUNDO
SUA VIDA DE ARTESÃO
DANDO NOME E SOBRENOME
E TAMBÉM O SEU APREÇO
PRA CADA UM, UMA HISTÓRIA
PRA ISSO, NÃO PUNHA PREÇO.
NAQUELE CANTO EMPOEIRADO
COM MADEIRA AMONTOADA
BEM DIFÍCIL PRA ENTRAR
LÁ FEZ A SUA MORADA
SUA VIDA DE ARTISTA
TRABALHO DE ENTALHADOR
COM O NOME DE ESCULTOR.
E SOU UMA TESTEMUNHA
QUE ENTRE UMA PROSA E OUTRA
UM GOLINHO DE CACHAÇA
QUE FAZIA COM PRAZER
TIRANDO DO ALAMBIQUE
GOTA A GOTA A CONTAR
PRA SAIR PURIFICADA
E MUITAS DORES CURAR.
OU ENTÃO AQUI EU CONTO,
PRA CELEBRAR UM ENCONTRO
COMO ERA DADO FAZER
SEMPRE UM GOLE OFERECENDO
A QUEM O VIESSE REVER
MAS TAMBÉM O CONHECER.
NUM DIA DE TANTA TRISTEZA
CORAÇÃO JÁ EM LAMENTO,
POR SUA RECENTE PARTIDA,
OLHANDO PARA O TELHADO
EM MEIO A TANTA MISTURA
NATUREZA EM FORMOSURA
ENCONTREI UM BEIJA FLOR.
TINHA FEITO LÁ SEU NINHO
DEPENDURADO NO TETO
MOSTRANDO-LHE O AFETO
AO ESCOLHER BEM O LUGAR
E SEUS OVINHOS BOTAR.
FIQUEI ENTÃO PERGUANTANDO
NESSE MUNDO DE MAGIA,
NO ENCONTRO DOS ARTISTAS
EM MEIO A TANTA DOR,
QUEM SERIA O ESCULTOR?
MUITO ANTES DE SEGUIR
SUA VIAGEM SEM VOLTA
PARTILHOU COM SEUS AMIGOS
AMIZADE VERDADEIRA
SEM TER TIDO INIMIGOS
E TEVE MUITA CONVERSA
COM IMPORTANTES MADEIRAS
QUE FORAM POR SUA VIDA
ALÉM DE MILA, A ESPOSA,
SUAS VELHAS COMPANHEIRAS
DEITANDO-AS NA BANCADA
COMO MULHER EMPRENHADA
PARA CRIANÇA PARIR,
OUVIA AS SUAS VOZES
SUSSURANDO-LHE AOS OUVIDOS
MUITAS PALAVRAS DE ORDEM
COMO ALGO A LHE ENSINAR:
“ANDE LOGO, TENHO PRESSA
JUNTE MATERLO E O CINZEL
E COMECE TRABALHAR.
APROFUNDE ESSE CORTE
NADA É QUESTÃO DE SORTE
CADA ARTE EM SEU LUGAR.
VIRE- ME PARA UM LADO
E CONTINUE A LASCAR
FAÇA UM LEVE TALHO
PROCURE POR UM ATALHO
FIGURAS VÃO SE FORMAR.
OLHE- ME BEM NOS OLHOS
COMO A DOCE AMADA REQUER
CONHECE BEM O MEU NOME
NÃO SOU MADEIRA QUALQUER.
A VIDA É COMO A ARTE
UM COMEÇO SEM TER FIM
É SÓ UM CONTINUAR.
DE UM TRONCO ABANDONADO
TRABALHANDO SEM PARAR
NOVA VIDA VAI ME DAR.
POSSO SER UM SER DISFORME
NO INÍCIO ATÉ SEM NOME,
LOGO FORMA VOU LOGO TOMAR
VIRO GENTE, SOU UM ANJO
OU MESMO ANIMAL QUALQUER
BICHO, HOMEM OU CRIANÇA
POSSO SER UMA MULHER.
VIRO LETRAS
FAÇO ANÚNCIOS
DE LUGAR QUE NUNCA VI
EM SUAS MÃOS DE ARTISTA
VERDADEIRO SINFONISTA,
IMPORTANTE VOU FICAR,
POSSO ATÉ PREMIOS GANHAR.
MAS NÃO DOU A IMPORTÂNCIA
QUE OS OUTROS ATÉ POSSAM DAR.
PARA MIM O QUE INTERESSA
E DIGO, SEM MUITA PRESSA
SENTIR A TRANSFORMAÇÃO
POR ESTAR EM SUAS MÃOS.
SINTO O TALHO EM MEU CORPO
COM GOLPE MUITO CERTEIRO
NÃO QUERO FALAR EM DOR
QUEM ME DÁ A NOVA VIDA
É UM NASCIDO ARTISTA
CHAMADO DE ESCULTOR,
PORQUE ELA É PASSAGEIRA
E COMO UM BOM BOIADEIRO
VOU GUARDÁ-LA NA ALGIBEIRA
PRA VIDA CONTINUAR
SEJA HOJE OU ALGUM DIA
AQUI OU EM OUTRO LUGAR.
TEREMOS A VIDA ETERNA
PORQUE NELA TUDO SE ALTERNA
CRIADOR E CRIATURA
SÃO SEMPRE A MESMA FIGURA
BASTA SÓ SABER OLHAR.
POEMA ESCRITO EM 22 DE NOVEMBRO DE 2008 EM HOMENAGEM AO ESCULTOR EDSON PERES
PEQUENA HOMENAGEM
Logo após a passagem do meu querido amigo Edson, fui à sua Fazenda. Revisitá-lo. Revisitar sua obra. Estar com aminha querida amiga Mila, sua mulher e companheira. Ela me contou, quando estávamos na Oficina de Trabalho do Edson, que naqueles dias um beija-flor havia feito um ninho pendurando-o no teto daquele espaço. Fiz pra ele um pequeno poema.
Logo após a passagem do meu querido amigo Edson, fui à sua Fazenda. Revisitá-lo. Revisitar sua obra. Estar com aminha querida amiga Mila, sua mulher e companheira. Ela me contou, quando estávamos na Oficina de Trabalho do Edson, que naqueles dias um beija-flor havia feito um ninho pendurando-o no teto daquele espaço. Fiz pra ele um pequeno poema.
Cidinha Souza Pinto
PARA A ARTE DE EDSON
ENTALHE
Cidinha Souza Pinto
Nov. 2008
NAS MADEIRAS, SUAS MARCAS
CRAVADAS SOBRE AQUELAS
ENCONTRADAS AO RELENTO,
ARRASTADAS POR ESTRADAS,
ATÉ SEM PERTENCIMENTO,
POR VEZES ABANDONADAS.
NUM ESPAÇO TÃO CONFUSO
MUITA COISA EM DESUSO
COM TANTA QUINQUILHARIA.
OBJETOS SEM VALOR
PRA QUEM DE FORA OS OLHASSE
PODENDO ATÉ ESTRANHAR
UM ARTISTA DE RENOME
TER ESCOLHIDO PRA SER
POR MUITOS ANOS A FIO
-SERIA UM DESAFIO?-
SEU LUGAR DE TRABALHAR.
PRA ELE ERA SEU MUNDO
SUA VIDA DE ARTESÃO
DANDO NOME E SOBRENOME
E TAMBÉM O SEU APREÇO
PRA CADA UM, UMA HISTÓRIA
PRA ISSO, NÃO PUNHA PREÇO.
NAQUELE CANTO EMPOEIRADO
COM MADEIRA AMONTOADA
BEM DIFÍCIL PRA ENTRAR
LÁ FEZ A SUA MORADA
SUA VIDA DE ARTISTA
TRABALHO DE ENTALHADOR
COM O NOME DE ESCULTOR.
E SOU UMA TESTEMUNHA
QUE ENTRE UMA PROSA E OUTRA
UM GOLINHO DE CACHAÇA
QUE FAZIA COM PRAZER
TIRANDO DO ALAMBIQUE
GOTA A GOTA A CONTAR
PRA SAIR PURIFICADA
E MUITAS DORES CURAR.
OU ENTÃO AQUI EU CONTO,
PRA CELEBRAR UM ENCONTRO
COMO ERA DADO FAZER
SEMPRE UM GOLE OFERECENDO
A QUEM O VIESSE REVER
MAS TAMBÉM O CONHECER.
NUM DIA DE TANTA TRISTEZA
CORAÇÃO JÁ EM LAMENTO,
POR SUA RECENTE PARTIDA,
OLHANDO PARA O TELHADO
EM MEIO A TANTA MISTURA
NATUREZA EM FORMOSURA
ENCONTREI UM BEIJA FLOR.
TINHA FEITO LÁ SEU NINHO
DEPENDURADO NO TETO
MOSTRANDO-LHE O AFETO
AO ESCOLHER BEM O LUGAR
E SEUS OVINHOS BOTAR.
FIQUEI ENTÃO PERGUANTANDO
NESSE MUNDO DE MAGIA,
NO ENCONTRO DOS ARTISTAS
EM MEIO A TANTA DOR,
QUEM SERIA O ESCULTOR?
MUITO ANTES DE SEGUIR
SUA VIAGEM SEM VOLTA
PARTILHOU COM SEUS AMIGOS
AMIZADE VERDADEIRA
SEM TER TIDO INIMIGOS
E TEVE MUITA CONVERSA
COM IMPORTANTES MADEIRAS
QUE FORAM POR SUA VIDA
ALÉM DE MILA, A ESPOSA,
SUAS VELHAS COMPANHEIRAS
DEITANDO-AS NA BANCADA
COMO MULHER EMPRENHADA
PARA CRIANÇA PARIR,
OUVIA AS SUAS VOZES
SUSSURANDO-LHE AOS OUVIDOS
MUITAS PALAVRAS DE ORDEM
COMO ALGO A LHE ENSINAR:
“ANDE LOGO, TENHO PRESSA
JUNTE MATERLO E O CINZEL
E COMECE TRABALHAR.
APROFUNDE ESSE CORTE
NADA É QUESTÃO DE SORTE
CADA ARTE EM SEU LUGAR.
VIRE- ME PARA UM LADO
E CONTINUE A LASCAR
FAÇA UM LEVE TALHO
PROCURE POR UM ATALHO
FIGURAS VÃO SE FORMAR.
OLHE- ME BEM NOS OLHOS
COMO A DOCE AMADA REQUER
CONHECE BEM O MEU NOME
NÃO SOU MADEIRA QUALQUER.
A VIDA É COMO A ARTE
UM COMEÇO SEM TER FIM
É SÓ UM CONTINUAR.
DE UM TRONCO ABANDONADO
TRABALHANDO SEM PARAR
NOVA VIDA VAI ME DAR.
POSSO SER UM SER DISFORME
NO INÍCIO ATÉ SEM NOME,
LOGO FORMA VOU LOGO TOMAR
VIRO GENTE, SOU UM ANJO
OU MESMO ANIMAL QUALQUER
BICHO, HOMEM OU CRIANÇA
POSSO SER UMA MULHER.
VIRO LETRAS
FAÇO ANÚNCIOS
DE LUGAR QUE NUNCA VI
EM SUAS MÃOS DE ARTISTA
VERDADEIRO SINFONISTA,
IMPORTANTE VOU FICAR,
POSSO ATÉ PREMIOS GANHAR.
MAS NÃO DOU A IMPORTÂNCIA
QUE OS OUTROS ATÉ POSSAM DAR.
PARA MIM O QUE INTERESSA
E DIGO, SEM MUITA PRESSA
SENTIR A TRANSFORMAÇÃO
POR ESTAR EM SUAS MÃOS.
SINTO O TALHO EM MEU CORPO
COM GOLPE MUITO CERTEIRO
NÃO QUERO FALAR EM DOR
QUEM ME DÁ A NOVA VIDA
É UM NASCIDO ARTISTA
CHAMADO DE ESCULTOR,
PORQUE ELA É PASSAGEIRA
E COMO UM BOM BOIADEIRO
VOU GUARDÁ-LA NA ALGIBEIRA
PRA VIDA CONTINUAR
SEJA HOJE OU ALGUM DIA
AQUI OU EM OUTRO LUGAR.
TEREMOS A VIDA ETERNA
PORQUE NELA TUDO SE ALTERNA
CRIADOR E CRIATURA
SÃO SEMPRE A MESMA FIGURA
BASTA SÓ SABER OLHAR.
POEMA ESCRITO EM 22 DE NOVEMBRO DE 2008 EM HOMENAGEM AO ESCULTOR EDSON PERES
EDSON, O AMIGO DE TODOS NÓS
EDSON PERES SÓ NÃO TEVE SEU "LOCUS NASCENDI" EM MONTE ALEGRE DO SUL. SUAS RAÍZES, SUA HISTÓRIA, SUA ARTE, FORAM CONSTRUÍDAS NESTA CIDADE. EM SUAS TERRAS -A FAZENDA SALMO XXIII- CRIOU RAÍZES. FEZ ARTE. FEZ HISTÓRIA. CONSTRUIU AMIZADES. REPENTINAMENTE NOS DEIXOU EM 06 DE SETEMBRO DE 2008.
A ASSOCIARTE E SEUS QUERIDOS AMIGOS TROUXERAM-NO NOVAMENTE À VIDA. CIDINHA SOUZA PINTO, ARTESÃ ASSOCIADA, FOI ESCOLHIDA POR ESSA ASSOCIAÇÃO PARA MANIFESTAR O SENTIMENTO DA PERDA QUE TOMOU CONTA DE TODOS NÓS.
O TEXTO QUE SEGUE FOI PUBLICADO EM JORNAL LOCAL. FOI ENTREGUE POSTERIORMENTE À MILA, SUA QUERIDA COMPANHEIRA, PARA QUE FIZESSE PARTE E SE MISTURASSE, COM HUMILDADE, À SUA ARTE.
EDSON PERES, O AMIGO DE TODOS NÓS
"Edson já se tornou uma lembrança para sua família e para nós, seus amigos. Essa perda, contudo vai ficando dia a dia mais robusta e viva, como uma fruta de estação. De todas as estações, mas principalmente desse quase início da Primavera.
Essas palavras me vêm agora, tiradas de uma passagem de um livro - "O Deus de todas as coisas". Ficaram gravadas em minha memória. Não sabia que as usaria para um momento de luto, ditas para um amigo querido, amigo de todos nós. Amigo que percorreu os caminhos de tantos desconhecidos, dos que o viram apenas por alguns instantes ou dos que com ele puderam partilhar de sua vida.
Tudo pode acontecer em nossas vidas. Para qualquer um. Aconteceu agora. Aconteceu o inesperado. Aconteceu o que deveria acontecer em algum dia, lá longe, distante, onde nossa vista nem sequer alcançava. E onde nossos desejos se perdiam.
Edson chegou mansamente em suas terras no Braizinho, em 1978, vindo de Campinas. Para a fazenda que se chamava Vitória. Veio com Mila, sua mulher e com um diploma de arquiteto que logo deixou de lado. E ali fizeram sua morada, ali nasceram seus filhos Camila e Ramsés e seu neto Luiz Felipe. Ali nasceu a Fazenda Salmo XXIII : "O Senhor é meu Pastor e nada me faltará".
Nada faltou porque naquelas terras fez o nascedouro de seu legado: construiu casas, plantou mais árvores, fez renascer os cafezais, recolheu madeiras mortas e as vivificou para delas trazer sua arte até nós.
Abriu trilhas, penetrou nas matas, descobriu cachoeiras. Criou cachorros, galinhas, patos e gansos. E convidou com seu modo gentil, acolhedor, seus amigos para entrarem nesse mundo especial: sua casa, sua família, seu legado. Esta pequena Monte Alegre do Sul o acolheu e foi acolhida por ele.
Na madeira fria, sem vida, entalhou palmo a palmo, faces, figuras, letras, nomes, santos. Não precisou entalhar seu rosto porque suas marcas estão todas lá, em suas obras. Estão nas casas de conhecidos ou anônimos. Não mais como enfeites, mas como assinatura viva de sua pessoa, da arte trazida dentro de si e revelada a cada corte na madeira.
Com a marreta e o cinzel fez história. Contou histórias. Ganhou prêmios. Muitos prêmios. Ficaram pelas paredes de sua casa como ornamentos. Não se importava. Não era sua fonte de vida. Era apenas o reconhecimento dos que apreciavam e reconheciam sua arte.
Edson produziu sim, Arte. Objetos de Arte, como se diz. Como um pequeno olho d´água que emerge para a superfície e se transforma num rio imenso. Edson produziu Arte. Não mais do artista, mas nossa. O artista cria, é o Criador, o Pai. Nós nos apropriamos de sua Arte, de sua Anima, para nos tornarmos um pouco o Edson que habita em nós. Edson era o coletivo. Edson era o "nós".
A cachaça que fabricava meticulosamente, contando os pingos que saiam do alambique artesanal, precário, escondido num canto qualquer da fazenda,servia para curar as dores do corpo, da alma e para brindar a alegria. Era transformadora. Sempre "um pouquinho", como dizia.
Com seu corpo franzino, chegava de modo suave e imperceptível, porque seu sorriso aberto chegava primeiro. Seu abraço sempre foi pleno. Entregava-se. Entregou-se. Foi conduzido para uma viagem por estradas que ainda não conhecia, que não conhecíamos. Não foi só. Levou e deixou um pouco de si. Fez sua passagem no dia 06 de Setembro, em 2008. Logo completaria 61 anos. Faltava só uma semana. Nasceu em Munhoz - MG em 13 de Setembro de 1947.
Sua obra continuará viva na pessoa de seus amigos e de sua família. Mila e Ramsés continuarão na Fazenda Salmo XXIII. Fabricando cachaça que pinga de pouco em pouco, deixando a poeira ser o adorno de seus instrumentos de trabalho na Oficina e contando as histórias que ele deixou de contar: sua Arte, sua Vida, seu Amigos, sua Família."
Cidinha Souza Pinto
set. 2008
A ASSOCIARTE E SEUS QUERIDOS AMIGOS TROUXERAM-NO NOVAMENTE À VIDA. CIDINHA SOUZA PINTO, ARTESÃ ASSOCIADA, FOI ESCOLHIDA POR ESSA ASSOCIAÇÃO PARA MANIFESTAR O SENTIMENTO DA PERDA QUE TOMOU CONTA DE TODOS NÓS.
O TEXTO QUE SEGUE FOI PUBLICADO EM JORNAL LOCAL. FOI ENTREGUE POSTERIORMENTE À MILA, SUA QUERIDA COMPANHEIRA, PARA QUE FIZESSE PARTE E SE MISTURASSE, COM HUMILDADE, À SUA ARTE.
EDSON PERES, O AMIGO DE TODOS NÓS
"Edson já se tornou uma lembrança para sua família e para nós, seus amigos. Essa perda, contudo vai ficando dia a dia mais robusta e viva, como uma fruta de estação. De todas as estações, mas principalmente desse quase início da Primavera.
Essas palavras me vêm agora, tiradas de uma passagem de um livro - "O Deus de todas as coisas". Ficaram gravadas em minha memória. Não sabia que as usaria para um momento de luto, ditas para um amigo querido, amigo de todos nós. Amigo que percorreu os caminhos de tantos desconhecidos, dos que o viram apenas por alguns instantes ou dos que com ele puderam partilhar de sua vida.
Tudo pode acontecer em nossas vidas. Para qualquer um. Aconteceu agora. Aconteceu o inesperado. Aconteceu o que deveria acontecer em algum dia, lá longe, distante, onde nossa vista nem sequer alcançava. E onde nossos desejos se perdiam.
Edson chegou mansamente em suas terras no Braizinho, em 1978, vindo de Campinas. Para a fazenda que se chamava Vitória. Veio com Mila, sua mulher e com um diploma de arquiteto que logo deixou de lado. E ali fizeram sua morada, ali nasceram seus filhos Camila e Ramsés e seu neto Luiz Felipe. Ali nasceu a Fazenda Salmo XXIII : "O Senhor é meu Pastor e nada me faltará".
Nada faltou porque naquelas terras fez o nascedouro de seu legado: construiu casas, plantou mais árvores, fez renascer os cafezais, recolheu madeiras mortas e as vivificou para delas trazer sua arte até nós.
Abriu trilhas, penetrou nas matas, descobriu cachoeiras. Criou cachorros, galinhas, patos e gansos. E convidou com seu modo gentil, acolhedor, seus amigos para entrarem nesse mundo especial: sua casa, sua família, seu legado. Esta pequena Monte Alegre do Sul o acolheu e foi acolhida por ele.
Na madeira fria, sem vida, entalhou palmo a palmo, faces, figuras, letras, nomes, santos. Não precisou entalhar seu rosto porque suas marcas estão todas lá, em suas obras. Estão nas casas de conhecidos ou anônimos. Não mais como enfeites, mas como assinatura viva de sua pessoa, da arte trazida dentro de si e revelada a cada corte na madeira.
Com a marreta e o cinzel fez história. Contou histórias. Ganhou prêmios. Muitos prêmios. Ficaram pelas paredes de sua casa como ornamentos. Não se importava. Não era sua fonte de vida. Era apenas o reconhecimento dos que apreciavam e reconheciam sua arte.
Edson produziu sim, Arte. Objetos de Arte, como se diz. Como um pequeno olho d´água que emerge para a superfície e se transforma num rio imenso. Edson produziu Arte. Não mais do artista, mas nossa. O artista cria, é o Criador, o Pai. Nós nos apropriamos de sua Arte, de sua Anima, para nos tornarmos um pouco o Edson que habita em nós. Edson era o coletivo. Edson era o "nós".
A cachaça que fabricava meticulosamente, contando os pingos que saiam do alambique artesanal, precário, escondido num canto qualquer da fazenda,servia para curar as dores do corpo, da alma e para brindar a alegria. Era transformadora. Sempre "um pouquinho", como dizia.
Com seu corpo franzino, chegava de modo suave e imperceptível, porque seu sorriso aberto chegava primeiro. Seu abraço sempre foi pleno. Entregava-se. Entregou-se. Foi conduzido para uma viagem por estradas que ainda não conhecia, que não conhecíamos. Não foi só. Levou e deixou um pouco de si. Fez sua passagem no dia 06 de Setembro, em 2008. Logo completaria 61 anos. Faltava só uma semana. Nasceu em Munhoz - MG em 13 de Setembro de 1947.
Sua obra continuará viva na pessoa de seus amigos e de sua família. Mila e Ramsés continuarão na Fazenda Salmo XXIII. Fabricando cachaça que pinga de pouco em pouco, deixando a poeira ser o adorno de seus instrumentos de trabalho na Oficina e contando as histórias que ele deixou de contar: sua Arte, sua Vida, seu Amigos, sua Família."
Cidinha Souza Pinto
set. 2008
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