POEMA DO MILHO
Cora Coralina
Milho
Punhado plantado nos quintais.
Talhões fechados pelas roças.
Entremeando nas lavouras.
Baliza mascante nas divisas
Milho verde. Milho seco
Bem granado, cor de ouro.
Alvo. Às vezes vareia
- espiga roxa, vermelha, salpintada
Alvo. Às vezes vareia
- espiga roxa, vermelha, salpintada
Milho virado, maduro, onde o feijão enrama.
MIlho quebrado, debulhado
na festa das colheiras anuais.
Bandeira de milho levada para os montes,
Bandeira de milho levada para os montes,
largada pelas roças.
Banadeiras esquecidas na fartura.
Respiga
Respiga
dos pássaros e dos bichos.
Milho empaiolado...
Abastança traanquila
do rato,
do caruncho,
do cumpim.
Palha de milho para o colchão
Jogada pelos pastos.
Marcada pelo gado.
Trançada em fundo de cadeiras.
Trançada em fundo de cadeiras.
Queimada nas coivaras,
Leve mortalha de cigarros.
Balaio de milho trocado com vizinho
no tempo da planta.
"Não se planta, nos sítios,sementes da mesma terra".
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Planta de milho na lua-nova.
Sistema velho colonial.
Planta de enxada.
- Seis grãos na cova,
Quatro na regra, dois de quebra.
Terra arrastada com o pé,
pisada, incalcada, mode os bichos.
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Cavador de milho, que está fazendo?
Há que milênios vem você plantando.
Capanga de grãos dourados a tiracolo.
Crente da terra. Sacerdote da terra.
Pai da terra
Filho da terra
Ascendente da terra.
Descendente da terra.
Ele mesmo, a terra.
Planta com fé religiosa.
Planta sozinho, silencioso.
Cava e planta.
Gestos pretéritos, imemoriais.
Oferta remota, patriarcal.
Liturgia milenária.
Ritual da paz.
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Milho plantado, dormido no chão, aconchegados
seis grãos na cova.
Quatro na regra, dois de quebra.
Vida inerte que a terra vai multiplicar.
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Milho crescendo, garfando,
esporando nas defesas.
Milho embandeirado.
Embalado pelo vento
"Do chão ao pendão, 60 dias vão".
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Cora Coralina é o pseudônimo de Ana Lins dos Gimarães Peixoto Bretas. Nasceu na Cidade de Goiás em 20 de agosto de 1889 e faleceu em Goiânia em 10 de abril de 1985. Mulher simples, era doceira de profissão. Produziu uma obra poética com motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular de sua cidade. (ref. Wikipédia).
O poema faz parte do livro "Cora Coralina " seleção de Darcy França Denófrio- Global Editora -
PETECA
Peteca é o nome dado a um artefato esportivo, utilizado também no jogo chamado Peteca. A origem é indígena-brasileira. A peteca era muito utilizada pelos índios como atividade esportiva para ganho de aquecimento corporal durante o inverno. Remonta ao tempo anterior aos colonizadores portugueses no Brasil. O jogo consiste na disputa de um ou mais participantes, utilizando-se das mãos, onde a peteca é arremassada ao ar, de um jogador para outro, evitando-se que a mesma toque o solo numa área definida. Pode ser jogada também em área dividida ao meio por uma rede à semelhança do voleibol.
O nome peteca é originário da língua tupi e significa golpe.
(fonte: Wikipédia)
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